sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Memórias de Medelim (da professora Júlia Ferreira)

Aqui fica, acabadinho de receber e para publicação, este texto da professora Júlia Ferreira. Leiam e apreciem...

"Aproveito o início do ano, para desejar um BOM 2011 e longa vida ao blog (ou blogue? Não podemos aportuguesar?). 
Desde o Verão que estava para mandar umas palavrinhas, mas… o tempo foi passando e, como os últimos posts têm focado épocas a que sou alheia, tenho deixado andar… 

Mas como «Ano Novo, vida nova», hoje cá vai… 

Ao longo destes anos, tenho-me lembrado muitas vezes dessa terrinha simpática com nome de cartel colombiano, sobretudo quando penso no início da carreira ou quando me encontro com o Zé Rafael (professor de Inglês) e com a Aurelina (professora de Ciências) e recordamos, divertidos, momentos agradáveis da nossa juventude e reflectimos sobre os meandros do acaso que fez com que uma ribatejana do Couço que estudou em Lisboa e um jovem casal (formado por um beirã da Cordinhã e por um alentejano de Estremoz que estudaram em Coimbra) ficassem amigos para o resto da vida… E até momentos menos bons, relativos a guerrilhas com a entidade patronal (porque nós os três estávamos cheios de sangue na guelra e éramos muito refilões…), provocam hoje sonoras gargalhadas aos sexagenários que somos… É assim… o tempo mitifica as coisas e é catártico. 

E era neste pé que estava a minha relação com Medelim. Mas bruscamente no Verão passado, a descoberta do blogue levou-me ao sótão e abriu um baú de onde começaram a sair peças com mais de quarenta anos. 

Fui parar a Medelim por ter respondido a um anúncio «Professor – Precisa-se, etc., etc.», publicado em letras gordas, no Diário de Notícias. Estávamos já em Setembro, a experiência era quase nula e tinha receio de não ser colocada no ensino público. Encontrei-me em Lisboa com o empregador, muitos sorrisos, tudo «nos conformes», e ainda por cima, tudo posto num embrulhinho de papel dourado com lacinhos… Só que, duas semanas depois, fui colocada numa escola pública, na época Escola Industrial e Comercial…, em Lisboa… Mas, adiante que isso é outra história! 

Mas, como palavra era palavra, em Outubro de 1968, na frescura dos 24 anos, assentei arraiais (contrariadíssima e maldizendo a precipitação de não ter sabido esperar…) na Beira Baixa, para leccionar Português e Francês. Tinha um horário lectivo de pôr os cabelos em pé aos professores de hoje, e dividia-me entre Penamacor e Medelim, entre o Externato de Nossa Senhora do Incenso (de manhã) e o Externato do Senhor do Calvário (de tarde), à excepção de quarta ou de quinta-feira, em que fazia o percurso inverso. 

Como a oferta hoteleira não existia na região, fiquei alojada em Medelim, no rés-do-chão da casa de um dos proprietários dos dois externatos, com pensão completa. E aí não me podia queixar: tinha uma bela suite (quarto grande, casa de banho e saleta) e pequeno-almoço servido no quarto pela empregada! A comida era «divinal» (como dizem as personagens queirosianas). Tudo feito a primor pela Helena, a dona da casa, com uma mão de fazer inveja a muito chefe de cozinha. As mordomias pagavam-se, evidentemente, e no meu hotel ficava uma boa parte dos míseros três mil e oitocentos escudos (e mais uns trocos) que recebia mensalmente. Mas que foi vida de rica, que não voltei a ter, lá isso foi! 

Só que, depois de vários anos a viver em cidades, estranhei imenso a vida da província, ainda que as aulas, os meus novos amigos, os livros e os discos que ouvia na minha «aparelhagem» (eufemismo para o gira-discos com altifalante na tampa) me consolassem um pouco da falta da Lisboa que tinha deixado… O Diário de Lisboa, um vespertino que Deus haja, só chegava, por assinatura, no dia seguinte e às vezes dois ou três dias depois… O primeiro período foi terrível e, se não tivesse tido a sorte de ter encontrado o Zé Rafael e a Aurelina, teria sido ainda bem pior. Tinha saudades da família. Sentia falta das sessões do cineclube, dos cinemas, das discussões nos cafés, das sessões de discussão política nas Associações de Estudantes, apesar de haver a Pide… E o Maio de 68 tinha sido há pouco tempo… 

Com todas estas faltas, passava o tempo a desejar fins-de-semana e férias que me permitissem escapar para a capital. Claro que os fins-de-semana eram raros, porque viajar era difícil. A viagem para Lisboa, à sexta-feira, devia ser mais fácil, porque não me lembro dos pormenores, mas a de regresso a Medelim era uma epopeia. Saía de Lisboa às 10 da noite de domingo e chegava à aldeia perto das 8.30, a morrer de sono, mesmo a tempo de apanhar a carrinha para Penamacor. E isto, depois de viajar, em 2ª classe (o dinheiro não dava para mais…), no ronceiro comboio-correio, apinhado de magalas até ao Entroncamento (e às vezes era a única mulher na carruagem…), de chegar a Castelo Branco às 5,30 da madrugada e de esperar pela camioneta que me levaria a Medelim. Essas aulas de segunda-feira eram um desastre (se é que as outras também não o eram, estas eram de certeza bem piores…). Pobres alunos que me aturaram nesses dias! 

Apesar destes queixumes, comecei a adaptar-me e às vezes até gostava de estar na aldeia. Guardo boas memórias da minha passagem por esses cantos remotos da Beira Baixa. As pessoas eram simpáticas, os alunos eram gentis e comecei a tirar partido das coisas que me rodeavam e a apreciar a beleza agreste de Monsanto, de Penha Garcia, a querer saber a história de Belmonte, etc. Com os meus jovens colegas, que tinham carro, fui várias vezes ao cinema a Castelo Branco, a Cáceres, a Coimbra, a Lisboa, percorri as aldeias beirãs e diverti-me na romaria da Senhora do Almurtão de onde trouxe um adufe (que resistiu durante muito tempo e só foi parar ao caixote do lixo quando se desfez de podre). 

As instituições onde trabalhávamos também nos divertiam, porque vivíamos num mundo de equívocos em relação aos títulos dados às pessoas: um «engenheiro» que não era engenheiro, um «tenente» que não era tenente e «doutores» que não eram licenciados… Nesse tempo eu era ainda «bacharel», assim como o professor de Inglês (embora tivéssemos ambos diploma do ensino particular que nos permitia o exercício legal da docência). Julgo que, nessa confusão, só a Aurelina, que já tinha acabado o curso, e os colegas padres tinham direito aos títulos que lhes eram atribuídos… 

A festa de finalistas desse ano em Penamacor, realizada já não sei onde, fez-nos rir a bandeiras despregadas. Para a animação do evento, foram contratadas orquestra (ou conjunto???) e vedetas do nacional cançonetismo de então (de que nós não gostávamos, claro, com as nossas pretensões intelectuais…) e de quem hoje já ninguém fala: Gabriel Cardoso e Maria da Glória. O «Gaby», estilo Marco Paulo e Tony Carreira «avant la lettre», tinha um clube de fãs e punha as meninas a chorar, num desatino! Foi um sucesso! A cantora, depois de exibir o repertório português, para agradar aos jovens, trauteou uma canção inglesa muito em voga (Once upon a time…), mas não encantou os mais velhos. 

Em relação às pessoas com quem trabalhei e convivi, lembro-me bem dos mais ou menos sorridentes colegas padres (Padre Fatela, Padre Manuel, Padre Tarcísio – ou Tarsísio? –), do generoso professor de Física (Galhardo? Barbosa? Ou as duas coisas?) que nos recebia com uma mesa farta, da gentil D. Irene, do bonacheirão senhor «tenente», dos donos da casa onde vivi, do simpático motorista (Zé Maria?), etc. 

Há doze anos, fiz uma romagem de saudade à Beira Baixa. Fui com o meu marido. Ficámos em Castelo Branco, andámos uns dias pelas terras raianas e fomos a Medelim. Queria mostrar-lhe a aldeia e o Externato. Não reconheci ninguém e fiquei triste, ao ver as ruínas do velho colégio e as janelas escancaradas que nos olhavam de órbitas vazias. Sou mesmo uma sentimentalona! 

Nessa altura, lembrei-me com saudade de muita gente. E, ao ler o blogue, voltei a lembrar-me de nomes de alunos e de rostos eternamente adolescentes. Pelos posts, vi que há também quem se recorde de mim, embora nos cinquentões de hoje permaneçam as representações dos adolescentes de outrora, que não se recordam de aspectos que devem fazer parte do perfil de um professor, mas de uma jovem que seguia as «lições» de Mary Quant… E é verdade que gostava de «minis», porque o meu primeiro e o meu segundo carros também foram «minis». 

Eu era muito nova, estava no terceiro ano de trabalho… e sabia ainda pouco. Provavelmente não tinha qualidades pedagógicas, não devo ter ensinado nada de jeito e, por isso, ninguém se lembra das aulas. Deviam ser uma seca, embora eu me esforçasse por fazer o melhor que sabia. De qualquer modo, lembram-se de mim… Já não é mau! 

No entanto, talvez por os autores dos posts terem sido meus alunos de Francês, ninguém faz referência à minha actividade de professora de Português do Ensino Complementar (como então se chamava aos anos correspondentes ao actuais 10º e 11º do secundário) em Penamacor, porque só me referem como professora de Francês. 

Para concluir, aqui fica um agradecimento ao João Adolfo pelo post que me dedicou com a canção da Françoise Hardy e pelos votos de felicidades. 

Por último, e em relação a um post recente sobre professores de Francês, achei muito interessante a descrição que fazem do Iésus. Conheci-o, nos anos 80 (entre 80-85), mas também perdi o contacto. Nessa altura, o Iésus vivia no Porto e éramos ambos orientadores pedagógicos, uma espécie de caixeiros-viajantes da pedagogia, ou seja «ventoinhas», nome pelo qual éramos designados na gíria das escolas. Reuníamo-nos duas ou três vezes por ano, em encontros nacionais, e o Iesus enfiava-nos sempre em travessas e ruelas para nos levar a restaurantes indianos (bons e baratinhos) que só ele conhecia. Conversávamos muito, mas nunca entrámos em pormenores sobre lugares onde tínhamos trabalhado. Por isso, nunca soube da sua passagem por Medelim, nem que tinha sido ele que me tinha substituído. Teria sido bem interessante pôr em comum as nossas vivências docentes por terras raianas, enquanto nos íamos regalando com o caril, as apas, as chamuças, o chacutti, o chutney, o vindalho, o sarapatel e a bebinca... 

Por hoje, vou acabar esta prosa já longa e bem-haja (como se diz entre a boa gente da Beira Baixa) quem teve a ideia do blogue, que me trouxe de volta memórias da juventude!"

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Com votos de um Bom 2011

baile de finalistas 1972/73

   Não, a foto não é da festa da última passagem de ano!... (que isto não está para festas!!!), nem tão pouco da passagem de ano de 1972/73, como se poderia supor pelos números na parede… É, isso sim, do Baile de Finalistas desse mesmo ano lectivo, dos alunos do Externato do Senhor do Calvário de Medelim e do Externato Nossa Senhora do Incenso de Penamacor e realizou-se na Casa do Povo desta vila Beirã. 
   A fazer fé na inscrição, e na seta, o Bar era lá ao fundo ... mas aqui à frente é que temos a rapaziada a abrir garrafas!!!! (Devia ser a hora do Champanhe…) 

   Há aqui muitas caras que já não consigo identificar… Por isso peço, aos que por aqui forem passando e se forem recordando, para irem enviando comentários com as respectivas identificações. 

   Pela parte que me toca avanço já com os rapazes das garrafas: o Milheiro, aqui em 1º plano e de costas, e logo a seguir o Amaral e o Zé de Oliveira
   E tal como diz o título do "post", e uma vez que este é o primeiro deste ano, aproveito para desejar, a todos quantos por aqui passarem, um Bom Ano de 2011!...

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