sábado, 12 de fevereiro de 2011

CARNAVAL DE 1961

Carnaval 1961 (Aldeia do Bispo)
Olá, João Adolfo:

Gostei da história carnavalesca da lagartixa...mas estava a ver que o Eng. acabava a aula sem que os alunos e professor se divertissem...É verdade, aliás, como tu dizes, o Eng. era daqueles que adoravam brincar ao Carnaval.

Estive pouco tempo em Medelim,como já disse anteriormente, e na qualidade de professor, pelo que não pude apreciar pessoalmente algumas das qualidades do Eng. Ressureição. Agora que estava sempre com a juventude e pronto para a brincadeira....estava. Lembro os torneios de futebol e as partidas, quer de Carnaval ,quer noutros momentos de boa disposição. Ora vejam lá se o reconhecem?!...Isto em Aldeia do Bispo em 1961...

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

No Carnaval de 1968


Não, a foto não é de nenhuma trupe de Carnaval, mas bem que podia ser ali com aquela matrafona, tão jeitosa e tão bem ataviada… 
É, isso sim, mais uma da peça de teatro “O Senhor de Pourceaugnac” de Moliére, da nossa Récita de Finalistas de 1972/73, aqui numa cena entre Sbrigani (João Adolfo) e o Sr. de Pourceaugnac (João Lisboa). 

A foto e a evocação do Carnaval serve, no entanto, de pretexto para vos contar uma história que se passou já lá vão mais de 40 anos, no carnaval de 1968. 

Andava eu no 2º ano e tínhamos aulas no 1º andar do edifício junto à loja do sr. Américo, na sala das traseiras. 
O dia estava soalheiro e sempre que tal acontecia, chegada a hora do almoço, a rapaziada pegava nas sacolas e espalhava-se pelos mais variados locais de Medelim para estender a toalhinha e dar conta da merenda. Nesse dia fomos até ao leque na estrada para Monsanto, à sombra dos Plátanos. A meio do almoço aparece por ali uma lagartixa pequenina e há logo um qualquer que grita:
- Olha uma lagartixa, vamos apanhá-la! ...

Meu dito meu feito, levantamo-nos todos num salto e depois de um cerco à pobre da lagartixa lá a conseguimos apanhar e meter numa caixa de fósforos das grandes, que por ali encontramos. 
Face à época do ano em que nos encontrávamos, aquelas cabecinhas não pararam mais de imaginar o que é que se iria fazer com a lagartixa, surgindo logo uma infinidade de ideias para pregar partidas às nossas colegas (o grupo do almoço era só de rapazes). 

À medida que nos íamos dirigindo para o Colégio íamos sugerindo hipóteses, até que alguém se lembrou que a seguir íamos ter aula com o director, o Engenheiro Ressurreição (Francês ou Matemática, já não faço ideia, pois ele leccionava as duas disciplinas), que sendo um professor muito sério e exigente, em cujas aulas havia uma disciplina rigorosa, gostava muito do carnaval e gabava-se-nos das muitas partidas que fizera e de nunca ter sido apanhado porque, dizia ele, já conhecia todos os truques possíveis e imaginários.

 Acabámos por chegar a acordo que ia ser a ele que tínhamos que pregar a partida... o problema era como… 
Chegados ao Colégio fomos arrumar os sacos das merendas e corremos para a sala para estudar as hipóteses: 
1ª- Deixar a caixinha em cima da secretária, na esperança de que ele a pudesse abrir… Isso não resulta, concordávamos… 
2ª- Colocar o livro de ponto dentro da gaveta e atirar para lá a lagartixa… também não resulta… 
3ª- Colocar a lagartixa junto ao apagador do quadro… e como é que ela lá se aguenta sem estar dentro da caixa, perguntávamos?... 
E muitas das outras hipóteses levantadas esbarravam precisamente nesse ponto, como é que iríamos fazer para impedir que a lagartixa fugisse de imediato, caso a tirássemos de dentro da caixa?... 

Até que surgiu a ideia que acabou por ser aceite por todos. Procedemos de imediato a uma recolha de fundos e corremos para a loja do senhor Américo a comprar meia dúzia de camarões e um carrinho de linhas e lá voltamos nós, em passo de corrida, até à sala. 
Tirou-se a lagartixa da caixa e atou-se-lhe a linha ali junto às pernas de trás, ao mesmo tempo que outros  iam pregando os camarões nas tábuas do tecto e fazendo passar por eles a referida linha, na extremidade da qual já estava atada a lagartixa. 

O primeiro camarão estava colocado precisamente na vertical da secretária do professor, encoberto por uma trave que passava no local, e o último estava lá quase ao fundo do lado direito da sala, junto ao vão de uma porta, na vertical do lugar ocupado pelo Marquês que, se me não falha a memória, fora o escolhido para manobrador de serviço. Não sei exactamente quem fazia parte da equipa mas, mais um menos um, lá estariam certamente, para além de mim, o Marquês e o Taborda de Monsanto, o Farinha e o Moura da Bemposta, o Borrego do Salvador, o Pascoal das Aranhas e o Zé Pires de Penha Garcia...
Montada a operação, bastaria deixar correr a linha e a lagartixa baixava até junto do tampo da secretária, e voltando a puxar a linha a lagartixa voltava a ficar escondida pela trave de madeira do tecto; funcionava em pleno!...
Com toda esta discussão e com a montagem do complexo esquema de engenharia, mal tínhamos acabado a tarefa a campainha tocou para o começo das aulas da tarde, altura em que praticamente já toda a turma estava ao corrente da situação. 

O senhor Engenheiro entra na sala, dá ordem para nos sentarmos … passa ao lado da secretária, pousa os livros e a caderneta, pergunta pelo livro de ponto (que tínhamos escondido na gaveta para que quando fosse retirá-lo pudesse ser largado o fio), alguém lhe diz que devia estar dentro da gaveta… a expectativa aumentava, os olhos moviam-se entre a posição ocupada pelo professor e a cadeira, onde ele supostamente se iria sentar para o momento tão esperado… os segundos demoravam uma eternidade a passar… 

O professor dirige-se para a secretária, dá um passo, pára durante um momento, certamente pensando com os seus botões, “aqui há partida de carnaval”, dá meia-volta e diz para uma das meninas ali da frente: 
- Tira lá o livro da gaveta e coloca-o em cima da secretária.
Foi a decepção total entre toda a turma, tínhamos perdido o primeiro round; mas haja fé e esperança… que vai ter que escrever o sumário…
Lá foi a rapariga tirar o livro e colocá-lo no tampo, sobre o olhar atento do director que, já colocado do lado de cá da secretária, entre esta e os alunos, pegou no livro e abriu-o de repente, sacudindo-o para cima dos colegas sentados nas primeiras carteiras, imaginando ele que não tendo havido nenhuma partida na gaveta,  haveria certamente alguma coisa dentro do livro… também não… 

Ou pelas nossas caras, ou pelo nosso comportamento, ou por artes de mágica, tudo nos indicava que o professor sabia que tínhamos ali alguma preparada,, ... mas até ao momento eram só pistas falsas!...
Descartada a hipótese dos pozinhos de espirrar dentro do livro, mas continuando sempre do lado de cá da secretária, escreveu o sumário e começamos a aula.

Como era seu hábito foi dando a aula caminhando dum lado para o outro, deslocando-se ao quadro, percorrendo o espaço entre as carteiras, sempre com um olho no rapaz e outro no burro, que é como quem diz, ora com atenção à aula propriamente dita, ora atentando a todos os pormenores que pudessem indiciar donde viria a partida…

Quanto a nós, alunos, a concentração era quase impossível, também sempre com um olho no rapaz e outro no burro, ou seja, tentando mostrar a maior calma e descontracção, olhando ora para o professor e para o que estávamos a fazer, ora para a vertical da secretária, sempre que nos parecia que se ia aproximar dela.

O tempo foi passando lenta, lentamente, muito lentamente, … até que se ouviu o toque da campainha. A aula tinha acabado…
Nunca uma aula havia demorado tanto tempo e nunca uma expectativa tão grande tinha sido tão ingloriamente defraudada …

Começamos a arrumar os livros e o material escolar, com rápidas trocas de olhares entre nós, numa desilusão imensa, à espera que o professor nos desse ordem para sairmos,...  quando de repente se dirige na direcção da secretária, pega no livro de ponto, sobe o pequeno estrado e começa a dizer-nos à medida que afasta a cadeira:
- Não é preciso colocarem o livro na gaveta, fica aqui em cima da secretá…
Não acabou a frase, nesse preciso momento deu um salto à retaguarda e um grito de aflição, ao mesmo tempo que agitava os braços tentando sacudir algo que não sabia bem o quê… a lagartixa tinha acabado de cair-lhe precisamente entre os óculos ... e balançava agora à sua frente suspensa pela linha… ouviam-se os gritos de alegria e as risadas da turma, todos a bater palmas, numa euforia extasiante, libertando a tensão acumulada ao longo de tão longos 50 minutos...

Passado o momento do susto, o sisudo e respeitável director, que Deus haja, aceitou com enorme fair-play a derrota e confessou-nos:
- Desde que entrei na sala que fiquei convencido que tinham uma partida preparada… mas com uma destas é que eu não contava!...
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